Por Wyllian Soppa

Morreu nesta quinta-feira (2) a jornalista Glória Maria, aos 73 anos. O anúncio do falecimento foi feito pelo grupo Globo, em nota oficial. Segundo o texto, o tratamento que Glória Maria fazia contra um câncer deixou de dar resultado. Ela estava internada no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Glória Maria deixa duas filhas, Maria (15) e Laura (14). Elas foram adotadas pela jornalista em 2009, na Bahia, e eram “a razão de viver” de Glória, como ela costumeiramente declarava pelas redes sociais.

Em 2019, a repórter mais icônica da TV Globo recebeu um diagnóstico de câncer no pulmão, tratado com imunoterapia. Posteriormente, houve metástase no cérebro, o que exigiu tratamento cirúrgico. Apesar de a intervenção ter sido bem-sucedida inicialmente, novas metástases cerebrais surgiram e exigiram mais uma etapa de tratamento, mas sem progresso desta vez.

REFERÊNCIA – Glória – que afirmou em participação no podcast do rapper Mano Brown que gosta de ser chamada de Maria – é um dos maiores nomes da história do telejornalismo brasileiro. A primeira entrada em link “ao vivo e a cores” durante o Jornal Nacional foi dela, que também foi a primeira repórter negra da televisão brasileira.

Foi ainda a primeira mulher negra a apresentar o Fantástico. E sim, pontuar que ela foi a primeira repórter negra é absolutamente importante, especialmente porque Maria foi a primeira brasileira a fazer uso de uma legislação antirracismo. Foi a Lei 1.390, chamada Lei Afonso Arinos, sancionada por Getúlio Vargas de 1951, que pela primeira vez considerou o preconceito por cor ou raça uma contravenção no Brasil.

Seguindo a trajetória de pioneirismo, Glória Maria se tornou, em 2007, a primeira a fazer uma transmissão em HD no Brasil.

COSMOPOLITA – Ao longo de sua vida, visitou mais de 150 países, incluindo alguns que sequer existem mais, e falava cinco idiomas. Além de um português impecável, falava fluentemente inglês e francês, além de “arranhar” (como ela mesmo definia) no espanhol e no italiano. Isso sem contar o latim, que aprendeu ainda na juventude.

Ficou marcada por entrevistas icônicas com alguns dos maiores nomes da música mundial, como Freddie Mercury, Madonna, Michael Jackson e Mick Jagger. Participou, ainda, de coberturas jornalísticas históricas, desde conflitos bélicos a grandes eventos esportivos, como Olimpíadas e Copa do Mundo. Foi uma das melhores amigas de ninguém menos que o rei Roberto Carlos, que a tirou para dançar em seu show histórico na Cidade Velha de Jerusalém. 

Nascida no Rio de Janeiro, Glória Maria Matta da Silva era uma verdadeira cidadã do mundo (mas brasileira acima de tudo). E até experimentou como seria se aventurar fora dele, ao participar de um voo que simulava a gravidade zero. Talvez o planeta terra não tenha sido grande o suficiente para a filha da dona de casa Edna Alves Matta e do alfaiate Cosme Braga da Silva.

Maria venceu as barreiras sociais, raciais e profissionais sem jamais se prostrar. A única força capaz de dobrá-la foi a do amor materno, que a arrebatou mesmo sem nunca ter sonhado ser mãe. Provou a todos nós que os desafios devem ser um combustível, e que é preciso encarar de cabeça erguida quem diz que não é possível. Construiu uma carreira impecável na televisão e se consolidou como uma das grandes brasileiras de todos os tempos.

Exemplo para todos nós, viveu a vida como quem baila ao som de uma música que ama. Cumpriu sua jornada percorrendo todos os caminhos que o destino ofereceu e abraçando cada oportunidade da melhor forma possível, “andando ao Deus dará, sem nunca dar adeus”, como canta Lulu Santos. 

Seu legado ficará para sempre, para o jornalismo, para a sociedade e para a humanidade como um todo. Obrigado, Maria! 

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