Considerado o grupo ativo mais antigo de rap de Colombo, o Arquivo Negro completa 25 anos com uma obra que propõe a reflexão através de uma sonoridade clássica e forte. O quarteto, formado por Adriano (cantor e compositor), Dj Dex Sul (DJ), Luiz (cantor e compositor) e Mano Galax (cantor, compositor, beatmaker e produtor musical), construiu uma história sólida no cenário musical local, com reconhecimento em outros estados brasileiros.

O Arquivo Negro teve início no ano de 1996 e nasceu do desejo dos integrantes de se expressar sobre a revolta, o cotidiano e a realidade vivida por jovens pobres e esquecidos pela sociedade. Em um primeiro momento, Adriano se juntou a Dex e Galax, que pertenciam a um grupo chamado Cronistas dos Fatos. A escolha do nome da banda representava todo o sentimento que aqueles artistas colocavam em suas letras. “A ideia do nome surgiu como forma de denúncia e oportunidade de expressar sentimentos, a triste realidade que vivíamos, a repressão, o racismo, os maus tratos que os jovens pobres e pretos de periferia sofriam e sofrem. Tudo isso era narrado através de poesia, e tudo era arquivado na mente, no coração, na memória, e exposto através do rap. Com o passar do tempo, o grupo ampliou os seus temas, e sua abrangência, e hoje somos muito mais que um grupo, somos uma família. Cada integrante tem seu nome, ou vulgo, mas nosso sobrenome é Arquivo Negro”, disseram os quatro integrantes, em entrevista conjunta feita através do WhatsApp.

Entre as influências musicais do quarteto, estão grandes nomes do rap nacional e internacional como Racionais Mcs, Gabriel o Pensador, Thaide e Dj Hum, Sistema Negro, GOG, Cambio Negro, Cirurgia Moral, Public Enemy, Dr. Dre, Bone Thugs-n-Harmony, The Notorious B.I.G; House of Pain, Wu-Tang Clan, Snoop Dogg, Tupac, entre outros. Mas hoje, são eles que passaram a ser influência para a nova geração de rappers colombenses, graças ao pioneirismo. “O Arquivo Negro é reconhecido por sua história e resistência no rap de Colombo, pois além de ter integrantes criados nas ruas do município, nossa maior fonte de inspiração foi o aprendizado e a vivência no cotidiano da cidade. Abordamos temas da comunidade, e suas fragilidades, levantando a bandeira a partir da representatividade adquirida ao longo do tempo”, contam. 

Outro trunfo que os manteve em evidência ao mesmo tempo que valorizavam a essência, foi sempre buscar movimentar a cena do rap através da união. “Realizamos parcerias com a Ong ASPA, onde fizemos palestras e organizamos eventos para arrecadação de alimentos; iniciamos a primeira posse 4 Elementos junto com o Colombo Break, que em 1999 mudou pra MH2M (Movimento Hip Hop Metropolitano); com o grupo Plena Atitude e outros grupos parceiros. Abrimos o Barracão Cultural no Paloma em 2000, para encontros da Cultura Hip Hop e ensaios para apresentações que fortaleceram a Cultura”.

Fake News

Além do pioneirismo, outra característica do Arquivo Negro é a conversa franca e direta sobre política. ‘Fake News’, o mais recente single, por exemplo, traz uma óbvia crítica ao uso da mentira como artifício político, mas também tem uma roupagem sonora moderna. “Somos revoltados com esse sistema corrompido, falido e que faz de tudo para manter os mesmos no poder. Somos cronistas dos fatos, denunciamos a realidade, escrevemos o que ocorre na comunidade, alertamos o povo. Nosso rap tem que ser denúncia, tem que colocar os irmãos para pensar, para refletir, mas tem horas também, que pode ser diversão, distração. Tentamos não perder nossa essência, mas sempre estamos nos atualizando com as tendências atuais, inovando, mas sem perder a ternura, digamos assim”, disseram. 

Análise do cenário 

O grupo vê com bons olhos o crescimento do rap no mercado musical, estando entre os gêneros mais ouvidos do país. A evolução dos meios de divulgação, com o advento da internet, também é destacada. “A militância de antigamente tinha que se organizar em posses, e não tinha internet para divulgar seus trabalhos, nem para buscar novos conhecimentos. Tínhamos que, literalmente, garimpar as informações, ampliar os contatos, ir em palestras, eventos, fóruns, seminários e encontros da Cultura Hip Hop. Hoje, com as mídias sociais, a comunicação é rápida, a molecada hoje está voando na internet lançando muito som bom, movendo ações, fazendo lives, vídeo clipes. É uma Nova Era, um novo momento, e nós, ‘velhos’, estamos aprendendo como funciona, com muita  disposição e a bagagem cheia de conhecimento para agregar e fortalecer a cena atual. Sabe como é, o novo e o velho somando para um novo amanhecer”.

Além disso, os quatro integrantes afirmam que é possível conciliar a ideologia com o business. ”Rap é Ritmo e Poesia. Para muitos, o rap é compromisso; para outros abrange a diversão através das palavras; para nós é a soma de tudo isso e mais um pouco. É possível existir um equilíbrio entre ambos, afinal, lutamos por melhorias e desejamos evolução, paz, amor, justiça, liberdade, igualdade, prosperidade e fé para todos”.

Próximos projetos

O próximo passo da história do Arquivo Negro é o lançamento do single inédito “Até quando?”, que ainda está em produção. Além disso, os artistas também projetam a promoção de ações sociais, levando a arte e a cultura para as comunidades colombenses. “Nosso plano é voltar com nossos projetos sociais: palestras, oficinas, atividades para adolescentes, famílias e comunidade”, disse o grupo, que esteve à frente dessas iniciativas entre os anos de 1998 e 2010. “Nos últimos anos nos apresentamos em muitas escolas. Participamos de algumas palestras com jovens em busca do primeiro emprego, e/ou sob medidas socioeducativas, mas todos esses projetos estão em stand by devido a pandemia do novo coronavírus. Acreditamos que logo estaremos livres desta pandemia e poderemos voltar a planejar esta ação novamente”, completaram. 

Ouça agora

No canal de Youtube ‘Arquivo Negro’ e nos principais agregadores de música como Spotify e Deezer, você pode ouvir os clássicos do disco ‘O Rap não para’ e o single ‘Fake News’. 

Compartilhe nas Redes Sociais: