Há 12 anos, o estúdio musical Cena Underground, localizado no bairro Rio Verde, em Colombo, é referência na produção de músicos e artistas independentes, em especial do rock e do hip-hop. Idealizado por Edgar Barreto, o Kiko, o estúdio nasceu de uma união de influências e se transformou em um ideal. Na última semana, Kiko recebeu a reportagem do Jornal de Colombo para contar a história do Cena Underground, os planos para 2021 e o trabalho para discutir políticas públicas.

O início

Morador de Colombo por quase toda sua vida, Kiko reuniu diversos conhecimentos antes de apostar na produção musical como profissão. Adepto de movimentos culturais desde a adolescência, Kiko juntou a experiência em informática com a veia musical. “Já venho de projetos de cultura desde o final de 97. Eu dançava break, era do hip-hop. Em 2008, eu já tava envolvido com banda, e abri o estúdio para trabalhar com música. A gente mexia com hip-hop, rock, rap, movimentos underground e formulei esse conceito do Cena Underground. Comecei na música em 2002. E por incrível que pareça, a primeira banda em que toquei foi uma de São Paulo, a Obelisco. Na época, tava trampando, fazendo bico, mexia com informática. A segunda banda em que toquei foi a Alma Livre, de reggae, aqui de Curitiba. Quando você entra em banda, você passa muito perrengue em estúdio. Chegava aquela galera dreadlocks, e os caras meio que maltratam, mesmo você pagando. E ali surgiu a ideia de montar um estúdio”, detalha Kiko, que também participou da banda Da Rosa ao Caos, de punk rock.

Desde o começo da trajetória, o idealismo levou o Cena Underground a se tornar também um promotor de eventos culturais. “Em 2009 organizei o Reggae de Natal, depois vieram as coletâneas de bandas, para fazer fomento, em que a ideia era fazer as primeiras gravações das bandas, unindo Curitiba, Colombo, Araucária, Pinhais, Quatro Barras, para fazer a primeira gravação. Junto a isso, fazíamos CD e uma revistinha, em formato fanzine. Tinha o site também, a gente fazia a rádio web, cheguei a elaborar um bom tempo isso. Já fiz o ExpoRap, o Pintando Colombo, Rock na Praça, que são eventos culturais com bandas independentes”, conta Kiko, que lembra que desde 2015 o Cena Underground passou a ser considerado Ponto de Cultura do município.

Projetos para 2021

A demanda por gravações deve aumentar em 2021, após o período conturbado da pandemia. Kiko já planeja tirar do papel diversos projetos que já vinham sendo encaminhados desde antes de 2020. “Para esse ano já quero fazer a quinta coletânea de bandas, que vai ser a contrapartida do Ponto de Cultura, pelo fato de termos sido beneficiados pelo subsídio da Lei Aldir Blanc. Também quero iniciar o Projeto Primo, que é um projeto dividido em episódios, em que a gente começa a investir no artista, fazendo algo simples, gravando o artista com o intuito de lançar nas plataformas digitais, dando 20% dos royalties para um fundo a ser destinado para a Cultura. Fazer um trabalhinho mais profissional com o artista independente, dentro da nossa realidade. Também quero fazer a Cypher, que é quando você reúne cinco artistas de rap e junta em um projeto audiovisual”, detalha.

O produtor também espera poder elevar a cena musical de Colombo através da inserção dos artistas nas novas mídias, em especial nos aplicativos de música. “Essa visão de estar nas plataformas digitais, até pouco tempo atrás, a galera independente ainda não tinha. No meio rock’n roll, de bandas, a gente vê que o pessoal ainda fica muito focado em gravar um CD físico e praisso tem toda uma preparação, de até um ano. Agora, no funk e no rap, esse lado já está muito avançado e por isso o mercado está crescente. O funk, por exemplo, já faz a música, grava, faz o clipe e já está nas plataformas. O rap começou a fazer isso e a se destacar, tanto que das mais ouvidas no Spotify tem os caras do rap lá”, avalia. 

Política

Outro diferencial do Cena Underground é o engajamento político. Kiko sempre fez parte de movimentos culturais, chegando a participar do Conselho Municipal de Cultura e recentemente percebeu que a política influencia diretamente os trabalhadores do segmento cultural. “Você vai ficando mais velho e percebendo que tudo envolve política, inclusive na cultura”, afirmou Kiko, que está à frente do site Voto Colombense, um blog com informações e opiniões do cenário político local, discutindo políticas públicas. Embora seja um projeto paralelo ao Cena Underground, Kiko confirmou que o Voto Colombense seguirá firme acompanhando os fatos do município. “Muitos artistas não se ligam nessa parte. Não querem muito se envolver. Temos que lembrar que a cultura é um setor que cria uma cadeia criativa e econômica”, encerra.

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