Em um bate-papo com o Jornal de Colombo, o jornalista e servidor público Osni Mendes revisita sua trajetória profissional, marcada por resistência e dedicação à cidade, em reflexão sobre o papel da imprensa no Dia Nacional da Liberdade de Imprensa.
Neste sábado, 7 de junho, é comemorado o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Desde 1999, o Jornal de Colombo noticia o que impacta a sua vida, tendo a verdade e a credibilidade como valores imprescindíveis em sua atuação. São mais de 25 anos de tradição de um veículo que trabalha pelo desenvolvimento de um dos mais importantes municípios do Paraná.
Motivada pela data, a equipe convidou Osni Mendes — um importante personagem da história colombense — para um bate-papo com uma boa dose de escuta ativa, a fim de refletir sobre a seguinte pergunta: qual é o papel da imprensa local nos dias atuais? Desde já, convidamos você, nosso querido leitor e admirador do nosso trabalho, a pensar essa resposta conosco e a construir, juntos, os dias prósperos que virão.
Jornalista e servidor municipal há mais de quatro décadas, com raízes que atravessam o sul da Bahia, o estado de São Paulo e o norte do Paraná, Osni Mendes acompanhou — e ajudou a escrever — a história de Colombo, enfrentando transformações tecnológicas, sociais e políticas no exercício do ofício. Ele chegou a Curitiba com a família na década de 1970, em um fenômeno que movimentou milhares de pessoas em todo o país: o êxodo rural.
“Eu nasci em Penápolis (SP) e vim pra cá com 10 pra 11 anos”, iniciou. “Em Curitiba, minha família se deparou com a exploração do mercado imobiliário, que fez com que a cidade, aos olhos daqueles da época, fosse cercada por um grande cinturão de pobreza.”
Foi nesse contexto que a família de Osni se estabeleceu em Colombo, mais precisamente no bairro São Gabriel. “Minha família vem pra Curitiba e, não se estabelecendo na capital, acaba vindo morar no bairro onde agora voltei a viver. Passei praticamente toda a minha vida naquela região.”
Na conversa, ele relembrou momentos de sua formação, destacando como o ambiente vivido no período imediatamente posterior à Ditadura Militar influenciou seu compromisso com a liberdade de expressão. Osni foi presidente da União Metropolitana dos Estudantes e vice da União Brasileira dos Estudantes; no jornalismo, passou por diversos veículos de comunicação entre as décadas de 1980 e 1990.
“Fui um daqueles líderes estudantis logo após o agonizar do regime militar. Nossa briga número um era pelo direito de falar, de opinar, de ser contra — o que era proibido. Quando ainda era presidente o João Batista Figueiredo, que tratava melhor os seus cavalos do que as pessoas, aquilo me causava profunda indignação”, lembrou. “Comecei no jornalismo ainda nesse período, quando a liberdade de imprensa estava sob constante ataque. O medo de represálias, de ser silenciado, era constante. Mas era necessário, muito necessário, manter o compromisso com a verdade e com a comunidade.”
A fala de Osni sobre a ditadura está intimamente ligada à proposta de reflexão que o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa traz à sociedade. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), a data foi criada em referência a um movimento de jornalistas que, naquele triste período de 1964 a 1985, assinaram um manifesto exigindo o fim da censura e a redemocratização do país. Esse documento, divulgado em 7 de junho de 1977, contou com aproximadamente 3 mil assinaturas.
Entre as experiências que marcaram sua trajetória em Colombo, Osni destaca a mobilização popular pelas Diretas Já e, posteriormente, pela Constituinte Livre e Soberana. “Tive o prazer, junto com o professor Augusto Ferreira, de coordenar a campanha aqui em Colombo. O município participou ativamente, e isso foi histórico”, conta.
Década de 1990, anos 2000 e os resquícios da ditadura na comunicação e na luta por direitos sociais
No início da década de 1990, Osni lembra que os resquícios da ditadura ainda estavam presentes no cotidiano: “Ainda por um bom tempo, vimos o ranço do regime: pessoas autoritárias ocupando espaços de poder, levando a intolerância a quem ousava opinar. Era necessário enfrentar isso”, recorda.
Sua atuação também passou pela construção de bases sólidas para a organização comunitária. Ele participou da fundação das 14 primeiras associações de moradores de Colombo. No entanto, aponta que esse movimento acabou sendo distorcido com o uso político de programas assistenciais. Situação semelhante, segundo ele, ocorreu com os grêmios estudantis durante o governo José Richa, no Paraná.

Osni Mendes e Zoleide dos Santos, diretora-presidente do Jornal de Colombo. Foto: Laísa Trojaike/Jornal de Colombo
Hoje, mesmo ocupando um papel ativo na esfera institucional, Osni expressou preocupação com o esvaziamento da participação civil e do ativismo na busca por direitos. Ele pontuou que existem diversos líderes comprometidos com causas coletivas, mas que, comparado ao passado — especialmente ao período de transição democrática —, o engajamento atual é muito menor.
“Não vemos mais as discussões nos cafés, no mercado, nas panificadoras. Cada um tenta resolver o seu problema. É o individualismo ganhando força, porque as pessoas foram, aos poucos, apagadas desse processo coletivo”, opinou.
Osni Mendes e a Prefeitura de Colombo: 42 anos de serviço público e compromisso com o município
Osni entrou no “lado público da comunicação” após diversas experiências em veículos da Grande Curitiba. Hoje, com mais de quatro décadas de atuação na administração municipal, também falou sobre sua trajetória dentro da Prefeitura de Colombo, marcada pela dedicação à saúde pública, à comunicação institucional e, mais recentemente, à organização cerimonial.
Ele começou sua atuação no início da estruturação da saúde pública do município, acompanhando de perto a contratação dos primeiros profissionais da área, pessoas que foram lembradas com carinho. “A primeira profissional da enfermagem foi a dona Luísa, da Unidade de Saúde do Fátima. A saúde de Colombo, curiosamente, nasceu num espaço que antes era um prostíbulo, transformado no primeiro posto de saúde da cidade”, recorda. O local, segundo ele, tornou-se símbolo de transformação social e esforço coletivo.
Além da enfermeira Luísa de Alencar Guerra, Osni destaca também a trajetória do médico Ademir Rau, que entrou no município ainda como acadêmico de medicina e construiu toda sua carreira na saúde pública local. “Acompanhei esses dois primeiros profissionais, e essa experiência marcou minha entrada no serviço público”, relembra.
Apesar de iniciar sua trajetória na saúde, foi na comunicação institucional que Osni permaneceu por mais tempo. Relutante no início, ele acabou sendo reconhecido como alguém com talento para a área e assumiu funções relevantes na comunicação da Prefeitura.
Atualmente, comanda o Departamento de Cerimonial da Prefeitura de Colombo, setor criado na gestão atual. Ele é o responsável pela coordenação de todos os eventos institucionais das diversas secretarias. “Todo e qualquer evento hoje realizado pela Prefeitura passa por esse departamento. E é isso que estou fazendo agora”, explica.
Para Osni, o serviço público é um compromisso diário com a população, especialmente com os que mais precisam.
“Aprendi com meu pai que você tem que fazer bem feito tudo o que se dispõe a fazer, porque você é pago por quem não tem a menor condição de estar lá. Então, se você está, tem que fazer da melhor maneira possível. Atuei responsavelmente ao longo de toda a minha vida, e pretendo continuar contribuindo enquanto estiver aqui. Todos os dias levantei, fui, trabalhei, fiz o meu melhor. Tudo o que eu sou, devo ao povo de Colombo”, afirma, com gratidão e convicção.
Reflexões sobre a evolução do jornalismo
Ainda durante a conversa com a equipe do jornal, Osni refletiu sobre o caminho trilhado pelo jornalismo local e sua capacidade de se reinventar. Ele reconhece o novo momento vivido pela comunicação comunitária, com o surgimento de novas plataformas digitais e formatos mais descontraídos.
“É um formato que a gente, quando da minha formação, nem imaginava que existiria isso, né?”, disse Osni ao comentar o modelo mais informal e direto adotado por veículos e criadores de conteúdo atuais. Ele lembra do tempo em que o trabalho de redação era feito à mão, com datilografias, revisões e recomeços. “Era sentar, datilografar, revisar, rasgar… Ter do lado uma lixeira consistente, porque você arrancava e não estava bom.”
Mesmo diante das mudanças, Osni celebra a evolução: “Eu acho que a gente evoluiu, melhorou muito.” Ele destaca ainda a importância do diálogo entre gerações. Para ele, ouvir e trocar experiências com profissionais mais jovens é essencial, mas respeitar a trajetória dos mais experientes também é importante para a execução de um trabalho com expertise e qualidade.

Osni Mendes; Mestre Kandiero, conselheiro do Jornal de Colombo; Zoleide dos Santos, diretora-presidente do Jornal de Colombo; e Gabriel Souza, jornalista da casa. Foto: Laísa Trojaike/Jornal de Colombo
“Quando eu penso que eu sou o resultado da minha história e daqueles que passaram me fazendo ser quem eu sou, eu sou, assim, alguém que vive pensando que você passa a modificar a minha existência. […] Muito mais sendo influenciado por aqueles que chegam até mim, do que procurando influenciar as pessoas que vêm até mim. (…) Na verdade, ouvir pessoas que já passaram por isso nos faz cometer menos erros. Mas não só por não errar, por criar a perspectiva de fazer diferente do que eles fizeram.”
O Jornal de Colombo completa 26 anos em 2025, e Osni, que acompanhou a fundação do periódico, deixou uma mensagem inspiradora para os colaboradores. Para ele, a missão do jornalismo local é continuar encontrando formas de impactar as pessoas com informações relevantes, seja no formato impresso ou digital.
“Eu acho que o jornal tem que ter, mais do que qualquer outro setor — muito mais até mesmo do que a empresa que lança novos produtos —, o compromisso de pensar na perspectiva de como anda a sociedade. O que impacta hoje […] é resultado de perceber como atingir as pessoas. Então, que o jornal continue se modernizando. O jornal tem que se recriar, se reinventar, estar atento. Mas o principal: saber como é que vai atingir as pessoas amanhã.”
Reforço de convite à reflexão
Atualmente, o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa tornou-se um marco para o combate à censura e à violência contra jornalistas. E, por esse motivo, nós do Jornal de Colombo ressaltamos a importância da compreensão ao trabalho de profissionais que buscam informar a sociedade.
Convidamos a você pensar sobre como andam os processos da busca por direitos, assim como a imprensa buscou seu processo de participar ativamente com o seu trabalho na sociedade local ao longo da história.